Bonitas imagens... parabéns, direção de Arte! Movimentos de câmara, trilha, locução... tudo se encaixa.
Tratando-se de uma peça publicitária de uma Escola, localizada em Natal/RN, porém, não tive como não me lembrar do seguinte texto de um sobrevivente endereçada a Janusz Korczak, disponível no site do Museu do Holocausto:
“Caro professor,
Sou um sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum ser humano deveria testemunhar: câmaras de gás construídas por engenheiros ilustres; crianças envenenadas por médicos altamente especializados; recém-nascidos mortos por enfermeiros diplomados; mulheres e bebês assassinados e queimados por gente formada em ginásio, colégio e Universidade.
Por isso, caro professor, eu duvido da educação. E eu lhe formulo um pedido: ajude seus estudantes a se tornarem humanos. Seu esforço, professor, nunca deve produzir monstros eruditos e cultos, psicopatas e ‘Eichmans’ educados.
Ler, escrever, aritmética são importantes somente se servirem a tornar nossas crianças mais humanas.”
E o que essas linhas tem a ver com o filme publicitário da empresa educacional?
Sem dúvidas, não foi ela que roteirizou ou produziu o vídeo, mas, no universo publicitário, todo cliente precisa aprovar as peças de comunicação produzidas a partir dos planos de mídia contratados.
Logo, não há como não inferir que esse tipo de propaganda evidencia as concepções político-pedagógicas e a visão de mundo que a instituição de "educação" possui e irradia junto aos seus alunos.
E será que esses alunos estão se tornando "mais humanos" a partir de uma ação educacional baseada nesse tipo de concepção, em detrimento das inúmeras aprovações no vestibular e dos excelentes empregos conseguidos?
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Operários - Tarsila do Amaral (1933) |
Como disse Eduardo Galeano, o melhor do mundo é, justamente, "a quantidade de mundos que ele contém”.
Só acrescentaria uma coisa: que os mundos que fazem nosso mundo possam ser mundos melhores, porque mais importante do que a quantidade e a diversidade, é o respeito a esta e a igualdade de condições dignas para todos que neles vivem!
Portanto, enquanto educador, não rechaço ou deprecio os trabalhadores que ganham mal; rechaço, sim, as empresas que pagam baixos salários aos seus trabalhadores.
Rechaço, sim, o fato de um palhaço -- profissional árduo, de uma beleza estética, ética e histórica -- não poder viver dignamente com o seu trabalho. Rechaço o trabalho indecente e as ocupações laborais degradantes... o trabalho escravo de crianças em carvoeiras; as condições laborais desumanas de boias-frias em vários canaviais do Brasil; a insegurança a que se submetem tantos mineradores... Disso, sim, tenho vergonha! Não gostaria que um filho meu ou qualquer indivíduo tivesse que se submeter a esse tipo de ocupação!
Diante de todas essas questões, a educação não é nem pode ser neutra. Logo, desconfie de toda instituição de educação e de todo educador que propague, em seu discurso ou em sua prática, a formação de sujeitos apenas tecnicamente competentes, que não questionam o mundo do trabalho, não refletem criticamente sobre a vida. Desconfie também daqueles educadores ou gestores educacionais que defendem ou ignoram a manutenção do status quo, com todas as suas injustiças, desigualdades, preconceitos, limitações...
Educação é, etimológica e epistemologicamente, movimento, mudança... e, aí acrescento, transformação individual e social!
É por isso que sempre digo: há formas e formas de ser fazer “educação”. Devemos, portanto, sempre nos perguntar a quem serve esta ou aquela educação.
Como diz o slogan, “é preciso fazer a escolha certa”!